terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Lula, o Filho do Mundo ou Sobre a Universalidade de um Símbolo

Na última semana, em uma conversa de bar – ou melhor, em uma conversa num restaurante japonês -, papeava com alguns amigos sobre as razões da grande popularidade de Lula, apesar dele ter contra si a quase totalidade da grande imprensa. Assim, entre sushis, sashimis e harumakis – e generosas doses de saquê -, discutíamos temas como mitos e mitologias políticas, o papel da mídia, imaginário social, cultura política e ideologia (quando se juntam vários historiadores e cientistas sociais em uma mesa, o papo acaba descambando pr’uma merda qualquer do gênero!). Em meio à tão douta – e etílica - discussão, não pude deixar de pensar que talvez uma das explicações – entre as muitas - possíveis para tal fenômeno, seja justamente uma das mais simples dentre aquelas que apareceram à mesa: Lula é mais perfeita tradução – com tempero brasileiro – de um dos fetiches do liberalismo, o self-made man. Ele é o vence dor improvável, o homem comum que deu certo, a exceção que justifica a regra, enfim, o exemplo que alimenta o sonho de milhões e que dá algum sentido a existências quase sempre medíocres. Há quase quatro séculos esse “fetiche” é vendido para a humanidade e isto foi assimilado de tal forma por nós todos, que tal idéia passou a ser encarada como absolutamente lógica e irrefutável. Em um país como o nosso, com um longo e imenso histórico de desigualdade e exploração, o símbolo que Lula representa tem o seu significado enormemente ampliado. Mas o simbolismo da figura de Lula transcende nossas fronteiras nacionais e o restante do mundo também se sente seduzido por ele; afinal, em seu processo de expansão - ao se internacionalizar e “unificar” o mundo - o capitalismo também universalizou os seus valores e a sua ética. Neste sentido, Lula não é só “filho do Brasil”, mas também “filho do mundo”. Portanto, não deixa de ser uma doce ironia p erceber que aqueles setores da elite brasileira – incluindo-se aí o seu braço midiático - que procuraram nos incutir tais valores desde que nascemos, são hoje os mais incomodados com a ascensão do “presidente-operário”. Assim, quem sabe, esta não é uma grande piada das Parcas, as míticas fiandeiras que - segundo a mitologia greco-romana - tecem os fios dos destinos dos homens?

Retirado do blog http://abobrinhaspsicodelicas.blogspot.com/

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