segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Adeus, FHC

Por Leandro Fortes

Adeus também foi feito pra se dizer

Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.
Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.

Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.

Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.

Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.

Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:

Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.

FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!

A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.

Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.

Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.

A meu ver, um pouco tarde demais.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

UM BOM FIM-DE-SEMANA A TODOS E A TODAS

Retornamos com novas postagens segunda-feira. E não esqueçam: sexta-feira próxima temos nossa Festa de Fim-de-Ano. Pedimos a todos(as) interessados(as) em prestigiarem o evento que façam as reservas o mais rápido possível, uma vez que a procura sempre é grande. Abraços

SUGESTÃO DE FILME:O Poderoso Chefão

The Godfather ou O Poderoso Chefão, título no Brasil, é um filme de longa-metragem estadunidense de 1972, dirigido pelo cineasta Francis Ford Coppola, baseado em um romance homônimo de Mario Puzo. O roteiro da versão cinematográfica foi elaborado a partir da adaptação do livro pelo próprio Puzo, acompanhado de Coppola.

É o primeiro título de uma trilogia de filmes dos mesmos autores, tendo suas sequências recebido os títulos de The Godfather: Part II e The Godfather: Part III.

Sinopse:Don Vito Corleone (Marlon Brando) é o chefe de uma "família" de Nova York que está feliz, pois Connie (Talia Shire), sua filha, se casou com Carlo (Gianni Russo). Porém, durante a festa, Bonasera (Salvatore Corsitto) é visto no escritório de Don Corleone pedindo "justiça", vingança na verdade contra membros de uma quadrilha, que espancaram barbaramente sua filha por ela ter se recusado a fazer sexo para preservar a honra. Vito discute, mas os argumentos de Bonasera o sensibilizam e ele promete que os homens, que maltrataram a filha de Bonasera não serão mortos, pois ela também não foi, mas serão severamente castigados. Vito porém deixa claro que ele pode chamar Bonasera algum dia para devolver o "favor". Do lado de fora, no meio da festa, está o terceiro filho de Vito, Michael (Al Pacino), um capitão da marinha muito decorado que há pouco voltou da 2ª Guerra Mundial. Universitário educado, sensível e perceptivo, ele quase não é notado pela maioria dos presentes, com exceção de uma namorada da faculdade, Kay Adams (Diane Keaton), que não tem descendência italiana mas que ele ama. Em contrapartida há alguém que é bem notado, Johnny Fontane (Al Martino), um cantor de baladas românticas que provoca gritos entre as jovens que beiram a histeria. Don Corleone já o tinha ajudado, quando Johnny ainda estava em começo de carreira e estava preso por um contrato com o líder de uma grande banda, mas a carreira de Johnny deslanchou e ele queria fazer uma carreira solo. Por ser seu padrinho Vito foi procurar o líder da banda e ofereceu 10 mil dólares para deixar Johnny sair, mas teve o pedido recusado. Assim, no dia seguinte Vito voltou acompanhado por Luca Brasi (Lenny Montana), um capanga, e após uma hora ele assinou a liberação por apenas mil dólares, mas havia um detalhe: nas "negociações" Luca colocou uma arma na cabeça do líder da banda. Agora, no meio da alegria da festa, Johnny quer falar algo sério com Vito, pois precisa conseguir o principal papel em um filme para levantar sua carreira, mas o chefe do estúdio, Jack Woltz (John Marley), nem pensa em contratá-lo. Nervoso, Johnny começa a chorar e Vito, irritado, o esbofeteia, mas promete que ele conseguirá o almejado papel. Enquanto a festa continua acontecendo, Don Corleone comunica a Tom Hagen (Robert Duvall), seu filho adotivo que atua como conselheiro, que Carlo terá um emprego mas nada muito importante, e que os "negócios" não devem ser discutidos na sua frente. Os verdadeiros problemas começam para Vito quando Sollozzo (Al Lettieri), um gângster que tem apoio de uma família rival, encabeçada por Phillip Tattaglia (Victor Rendina) e seu filho Bruno (Tony Giorgio). Sollozzo, em uma reunião com Vito, Sonny e outros, conta para a família que ele pretende estabelecer um grande esquema de vendas de narcóticos em Nova York, mas exige permissão e proteção política de Vito para agir. Don Corleone odeia esta idéia, pois está satisfeito em operar com jogo, mulheres e proteção, mas isto será apenas a ponta do iceberg de uma mortal luta entre as "famílias".

Postagem retirada: www.adorocinema.com

CRÔNICA - O Segredo de Leticia

Por David Coimbra

Depois da noite encantada em que eles se conheceram e passaram parte conversando, parte se beijando, Leo tomou as mãos de Letícia nas suas e sussurrou:

- Me diga que você é colorada! Por favor! Me diga que você é colorada!

Letícia sorriu. E depois miou:

- Sooou...

Leo olhou para o Firmamento:

- Obrigado, Senhor! Encontrei a mulher perfeita!

Letícia sentiu o peito inflar de alegria. Gostava de ser a mulher perfeita. Só que não era – pelo menos não do ponto de vista de Leo. Na verdade, Letícia sempre fora gremista. Dissera-se colorada porque aquilo parecia tão importante para ele... Além disso, não ligava muito para futebol. Definia-se como gremista, mas estava longe de ser uma militante. Então, por que não fazer a alegria infantil daquele homem tão atencioso?

No encontro seguinte, ele lhe trouxe um mimo: um ursinho de pelúcia do Inter.

- Ó. Do nosso timão.

Letícia apertou o ursinho contra o peito:

- Que amooor...

A partir daquele dia, ele passou a chamá-la de Linda Vermelhinha. Continuaram se vendo cada vez com mais frequência. Começaram a namorar. Ele a levava ao Beira-Rio e a presenteava com novas camisetas do Inter, pratinhos do Inter, buttons do Inter. No aniversário dela, levou-a a um motel de luxo e, lá, deu-lhe de presente... uma calcinha do Inter!

- Veste, Linda Vermelhinha... - pediu, sôfrego, e ele mesmo tirou a roupa, menos os meiões do Inter, que usou durante toda a noite, esticadas até o joelho.

O namoro foi em frente. Com o passar dos anos, Letícia desenvolveu a impressão de que o coloradismo de Leo se acentuara. Ele parecia mais arrebatado a cada temporada. Só falava da sua paixão pelo Inter. Ou do seu horror ao Grêmio. Tamanha obsessão começou a irritá-la. E, aos poucos, ela, que antes era indiferente ao futebol, passou a torcer em silêncio pelo Grêmio... e contra o Inter.

Assim, o gremismo de Letícia foi se cevando surda e dolorosamente. Era um sentimento que crescia, que latejava, e do qual ela queria se livrar. Queria confessar a Leo que não era colorada, que jamais fora colorada e que, ao contrário, justamente por causa dele, tornara-se uma gremista acérrima. Mas outros sentimentos impediam que fizesse a confissão. O principal: ela amava Leo, fazia planos de casar-se com ele. Como poderia decepcioná-lo desta forma?

Angustiada, Letícia passou a gritar ao mundo o seu gremismo. Contava seu caso a todos. Todos: a família, os amigos, os colegas de serviço, a manicure, o porteiro. Em pouco tempo, só Leo não sabia. Leandro, seu melhor amigo, chegou a cogitar de contar tudo a ele, mas foi demovido pelos outros amigos.

- Depois eles reatam e você é que vira o vilão da história - argumentavam.

Letícia ia escondida aos jogos do Grêmio, guardava uniformes retrôs do time de Telê Santana na casa da irmã e escreveu “FBPA” na parte interna da bolsa.

Leo tornou-se motivo de chacota no bairro em que morava, na agência de publicidade em que trabalhava, no bar que frequentava.

Letícia não suportava mais aquela vida dupla. Queria dizer a verdade, queria viver em paz com sua consciência. Um dia, decidiu que contaria a Leo, mas naquele dia, justamente naquele dia, ele a pediu em casamento. Letícia foi acometida por uma crise de choro. Leo achou que fosse de alegria, era de angústia.

Como a maioria dos criminosos, ela passou a dar indícios de seus atos. Só se vestia de azul, arrumava desculpas para não acompanhar Leo nos jogos do Inter, uma manhã pegou-se assobiando vou torcer pro Grêmio bebendo vinho. Leo achava estranho, mas não podia admitir a terrível verdade. Até que, na manhã de um domingo de Gre-Nal, ele descobriu. Da maneira clássica: Letícia havia deixado o celular sobre a mesa e um de seus amigos gremistas enviou-lhe uma mensagem: “Até a pé nós iremos!” E Leo viu. Por algum motivo, desconfiou daquela mensagem que a noiva recebia numa manhã de domingo, tomou o celular e leu a frase. Quando Letícia chegou, vinda de outro aposento da casa, ele estava à beira das lágrimas.

- O que é isso? - gritava, mostrando o celular. - O que é isso??? Não vá me dizer que você é uma... - engoliu em seco - ... uma... uma... gremista!

Letícia entrou em pânico. Fora descoberta. Ia perder seu noivo, seu futuro marido, seu amor. Pensou rápido. E rápido agiu.

- Não! - ela gritou. - Isso é um código. Confesso: eu tenho um amante. Estou deixando dele, não o amo, amo você, mas a verdade é que tenho, tenho sim, tenho um amante! Eu tenho! Me perdoa, Leo! Me perdoa!

Leo ficou arrasado, chorou, descabelou-se, mas disse que a perdoaria. Com uma condição: ela teria que ir ao Gre-Nal com a camiseta do Inter, com a bandeira do Inter, torcer pelo Inter. Letícia foi. Vestiu vermelho e arrastou-se para o Gre-Nal, o coração estilhaçado. Sentados os dois nas arquibancadas, enrolados na bandeira colorada, Leo abraçou Letícia e a beijou no rosto. Achando-se traído por um mero homem de carne e osso, não por uma instituição, ele suspirou, aliviado, e declarou, com lágrimas nos olhos:

- Eu sabia que podia confiar em você, Linda Vermelhinha. Minha Linda Linda Linda Vermelhinha...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A blindagem teflon de Yeda

Quem acompanha de fora do Rio Grande do Sul os escândalos que envolvem o governo Yeda Crusius (PSDB), talvez não perceba o grau, o nível, de proteção com que a governadora conta por parte da imprensa local. Durante o escândalo do mensalão o termo blindagem ficou conhecido pelas denúncias da grande imprensa sobre a proteção ao presidente Lula feita pelo PT e aliados. Pois bem, em solo gaúcho inaugurou-se a blindagem teflon feita não pelos aliados de Yeda, mas pela própria imprensa. Nada gruda na imagem de administradora eficiente, austera e competente da tucana Yeda Crusius. Nem poeira.

Primeiro foram as denúncias do vice-governador, Paulo Feijó (DEM) logo nos primeiros meses. As diferenças entre Yeda e Feijó começaram logo após a eleição (talvez até durante o processo eleitoral) e ele se afastou do governo logo após a posse. Feijó foi classificado como um ressentido, Yeda o acusou pela imprensa de “querer implodir o governo”, e não mais lhe deram crédito. Ignorando rótulos, ele continuou denunciando e apresentando suas provas.

Paralelo às denúncias do vice, outros escândalos de corrupção – que pareciam menores -, foram pipocando na imprensa e se somaram ao grave caso de fraude no Detran. Entre esses “menores” estão os incentivos fiscais em projetos culturais, Banrisul, a compra da casa da governadora, caixa dois, entre outras. O caixa dois, denunciado pelo tucano Lair Ferst, lobista e arrecadador da campanha e também pivô da fraude no Detran, envolve diretamente o nome de Carlos Crusius, na época ainda marido de Yeda. As denúncias de Ferst corroboravam as já feitas por Feijó, e parecia bastar apenas a junção das peças do quebra-cabeças. Mas não com Yeda e sua blindagem especial!

As ligações das denúncias com pessoas próximas à governadora foram ficando cada vez mais claras e evidentes, e ganharam corpo com a gravação de uma conversa entre Paulo Feijó e o então chefe da Casa Civil, Cézar Busatto. Na gravação, Busatto faz uma oferta implícita de suborno ao vice-governador para que ele pare com as denúncias contra o governo e ainda explica didaticamente que o Banrisul é fonte de financiamento das campanhas do PMDB e o Detran e Daer do PP (partidos da base aliada de Yeda). A gravação foi feita pelo próprio Feijó e Busatto teve de deixar seu cargo para que o caso não atingisse a imagem da governadora. E não é que deu tempo!?

Mesmo com tantas denúncias, investigações em curso, gravações clandestinas para todo lado, no final de 2008, Yeda anunciou o “déficit zero” das contas do estado. Fato amplamente alardeado pela imprensa, reforçando sua imagem de “excelente administradora” e dando uma “lustradinha” em sua imagem.

Como se já não bastasse, teve ainda o suicídio com cara de assassinato (queima de arquivo, para ser mais exata) de Marcelo Cavalcante – “embaixador gaúcho em Brasília”, segundo palavras da governadora. Cavalcante foi encontrado morto no Lago Paranoá em fevereiro deste ano, e o caso permanece não explicado.

Além de Paulo Feijó, fizeram denúncias graves contra Yeda: Luciana Genro e Pedro Ruas (ambos do PSOL), a viúva de Marcelo Cavalcante, a Polícia Federal e o Ministério Público. Sendo que a denúncia oferecida pelo MP à justiça contra Yeda – aquela citada por Luciana Genro que quase rendeu-lhe um processo de cassação orquestrado pelo PSDB na Câmara Federal – foi o resultado final das investigações da fraude no Detran, que envolvem também a denúncia de caixa dois. O montante desviado dos cofres gaúchos, do que foi apurado até agora nesse caso, ultrapassam os 40 milhões de reais.

Yeda conseguiu retirar seu nome do processo via Justiça Federal, e ainda ameaçou denunciar os procuradores federais por perseguição junto a seus superiores, e também conseguiu arquivar o pedido de impeachment feito pelo PSOL na Assembleia Legislativa do RS. Não conseguiu evitar a CPI da corrupção – que continua na AL –, mas sem maioria, a oposição tem dificuldades até de ouvir depoimentos e realizar seções ordinárias. Apenas para registro, alguns dos depoimentos na CPI confirmam o teor de denúncias feitas. Indício de prova? Não para a valorosa e destemida imprensa gaúcha!

Após o arquivamento do impeachment, Yeda concedeu uma coletiva no Palácio Piratini onde reclamou da perseguição sofrida pelo ressentido Feijó e disse ter cometido um erro ao comprar a casa onde mora no início do mandato. O mea culpa da governadora colou e a CPI também caiu no descrédito – coisa da oposição, claro!

Independente do respeito e proteção gozados por Yeda junto à imprensa, o resultado de tantos escândalos na popularidade da governadora tucana é devastador. Entre os governadores brasileiros, Yeda tem a pior avaliação. Em pesquisa encomendada pelo Grupo RBS no início de outubro, 74% dos gaúchos desaprovam o governo Yeda, e 62% apoiam seu impeachment.

Ainda assim, é o CPERS (sindicato dos professores estaduais) o grande vilão da atual cena gaúcha, porque vai para a rua protestar ao invés de dar aula, porque mantém tão honrada líder encarcerada em sua casa e no Palácio em dias de protesto e porque ainda – pior de tudo – ofende Yeda em sua dignidade pessoal. Isso é imperdoável!

A deputada Luciano Genro – opositora ferrenha da governadora – sentenciou em seu site, no dia 06/11 [http://www.lucianagenro.com.br/2009/11/o-dilema-de-yeda/], que tanto o PSDB nacional quanto José Serra evitariam ter Yeda em seu palanque no RS, e o mais indicado para a governadora – articulado, segundo Luciana, pela direção tucana – seria renunciar e se candidatar a deputada federal para garantir a imunidade parlamentar diante dos processos já existentes e os que ainda virão. Se isso foi realmente cogitado pela direção do PSDB, não sei. Mas Luciana Genro enganou-se. Serra, acreditando na incrível resistência e eficácia da blindagem teflon de Yeda, acaba de lançá-la como sua companheira de chapa na pré-candidatura à presidente.

De minha parte, estou imensamente agradecida a Serra. Aliás, o governador paulista – já que considera Yeda tão competente – poderia nos fazer o favor de levá-la de volta para São Paulo.

O tempo de Yeda no Piratini (e quiçá de sua carreira política) está, felizmente, no fim e a imprensa gaúcha deixa um exemplo singular de anti-jornalismo, divulgando todas as denúncias e fazendo a mágica de, ao mesmo tempo, manter a governadora protegida dela mesma.


“Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo” – verso do Hino Riograndense, mais conhecido que o Hino Nacional cá por essas bandas.

Em tempo: Preciso avisar que usei (e abusei) de ironia no artigo?



Retirado do blog da autora: http://pimentacomlimao.wordpress.com



Niara de Oliveira
Jornalista

terça-feira, 24 de novembro de 2009

DELIBERAÇÕES DA ASSEMBLÉIA GERAL/ASUFPel

A assembléia geral, acatando sugestão da Direção, definiu por não paralisar as atividades nos dias 24, 25 e 26 de novembro. A Coordenação da ASUFPel encaminhará algumas questões levantadas na AG: reunião no CAVG, discussão sobre a carreira e, principalmente, o caos na infraestrutura da UFPel.Em postagem abaixo podemos conferir algumas denúncias levantadas hoje.

Relatos da assembléia evidenciam caos na UFPel

Falta de condições de trabalho, equipamentos e de segurança na UFPel. Essa tem sido a rotina na universidade, segundo relataram os dos técnico-administrativos que participaram da Assembléia Geral, realizada nesta terça-feira, na sede da ASUFPel-Sindicato. Como encaminhamento, ficou deliberado que o Sindicato irá elaborar levantamento dos principais problemas para denunciar ao público interno e externo. A ASUFPel-Sindicato encaminhou solicitação de audiência com a Reitoria para tratar do assunto.

Alguns problemas relatados:

-Muro do IAD caído há mais de um mês;

-Falta de estrutura na estrada do campus;

-Falta de material diverso;

-Falta de segurança: vigilantes denunciam risco permanente de assaltos aos alunos na zona do porto; Assaltos constantes, inclusive com seqüestro relâmpago ( estudante foi largada no Capão do Leão);

-Falta de água no Campus Anglo;

-Equipamentos novos sem material, como tinta para impressora;

-Falta de estrutura nos postos de saúde;

-Hospital escola: falta de banheiro exclusivo para funcionários; áreas insalubres, área de descanso sem janela; não há local para descanso adequado, medicamentos são guardados ao lado de alimentos, improviso para atendimento; diagnóstico tardio. Já solicitaram várias vezes solicitaram melhoria para a gerência e nada foi feito. Falta de equipamentos ergonômetros para a prestação do trabalho. Há casos de stress e alcoolismo. Já foi feito denúncia ao Ministério do Público.

Em novembro do ano passado, exatamente há um ano, a ASUFPel-Sindicato já havia denunciado os problemas. Eles só se agravaram com a falta de estrutura e ineficiência administrativa.

Naquele mês, a ASUFPel denunciou que muitos dos computadores novos, impressoras multifuncionais (fax, copiadora, scanner) e outros equipamentos modernos adquiridos recentemente pela Reitoria da UFPel já estão completamente parados por falta de outros materiais básicos, como cartuchos de tinta. "Comprou-se os itens permanentes (caros), mas não houve estoque dos materiais de manutenção (baratos), sem os quais "os caros" não servem para nada.Um ano depois, a situação permanece a mesma”, afirma a coordenadora da ASUFPel, Ediane Acunha.

Até pincel marcador para quadro branco está em falta - tem professor comprando do próprio bolso ou usando emprestado de aluno. Foi comprado desinfetante em grande quantidade, mas não há bombonas para envazá-los. Assim, o jeito é esperar o produto de uma vasilha acabar para tornar a enchê-la. Pior ainda é constatar que, além de faltar o básico, sobra o desnecessário. A lista de produtos em estoque inclui coisas do arco da velha, como fita para máquina de escrever.

Para driblar a falta de alguns artigos de primeira necessidade, servidores estão até fazendo trocas de produtos, como era o costume na Idade Média, durante o Feudalismo. Uma caneta de quadro branco por dois rolos de papel higiênico. E por aí vai. Quem não tem cão...

Conselho Municipal de Saúde denuncia possível trabalho escravo em Candiota

O presidente do Conselho Municipal de Saúde e coordenados do Conselho Gestor
do Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador, Luiz Guilherme Belletti encaminhou, esta semana, denúncia ao Ministério Público do Trabalho de trabalho escravo em Candiota.
Ele conta que no dia 4 esteve, juntamente com outros CEREST, visitando o canteiro de obras da Usina Termoelétrica de Candiota e em especial o entorno da obra da Usina, refeitórios e alojamentos das empresas contratantes dos serviços.
Cerca de mil trabalhadores vindos do norte/nordeste do país e até da China e das Coréias do Norte e Sul estão alojados precariamente em núcleo de alojamentos, na Vila Operária, no meio de um mato de eucalipto. “ Eles foram enviados para cá por um certo contratante que lhes prometeu um valor salarial que não é cumprido pelas empresas. Pior é que estes trabalhadores são obrigados a permanecer trabalhando por que não tem condições de retornarem para suas cidades de origem”, denuncia.
De acordo com Belleti, também chegam diariamente 42 ônibus dos municípios vizinhos, sendo dois de Pelotas, trazendo estes operários . “ Os alojamentos são cercados por telas e vigiados por uma equipe de segurança 24 horas, comandada por ex-policial. Por várias razões, estes trabalhadores são forçados a fazer horas extras e a trabalharem domingos e feriados”.
O local de refeição é próximo a obra que fica distante 12 quilômetros do alojamento. Vários ônibus, que na maioria foram desativados da frota urbana de Pelotas é o meio de transporte. “ A situação é degradante e desumana. Eles saem do alojamento antes das 7 horas e retornam às 20 horas segundo o relato de alguns que nos procuraram. O restaurante é critico. Pior ainda nos pareceu o sistema ou fluxo entre trabalho, refeição e descanso”, afirma o presidente do Conselho Municipal de Saúde.

Jornalista e Editor Paulo Otávio Pinho

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Geheime Staatspolizei

Por Adão Paiani

A Gestapo, ou Geheime Staatspolizei, foi criada em 1933, por Hermann Göering, e originalmente era apenas um departamento da polícia prussiana. Seus membros, inicialmente, eram recrutados dentro da própria estrutura policial, que se tornou sinônimo de polícia política e representou bem todo o arbítrio nazista. Seus primeiros alvos eram todos que se contrapunham ao nascente governo de Hitler. Comunistas, socialistas, anarquistas, liberais; depois católicos, protestantes, maçons e judeus. Ao fim, tornou-se o grande instrumento de dominação e terror sobre a Europa ocupada pelos nazistas.

Note-se que o início das atividades dessa polícia política nada tinha de ilegal; ao contrário; era plenamente justificada e legitimada pelo ordenamento jurídico alemão. Atuava, então, dentro de um governo eleito democraticamente; muito embora já demonstrasse claramente suas intenções despóticas.

Governos autoritários, em quaisquer momentos históricos, ou onde se encontrem; sempre se parecem. Uma das principais características que os irmanam é a utilização tanto das estruturas jurídicas e legais quanto das forças de segurança para ameaçar, perseguir e silenciar seus adversários.

Mas não o fazem sozinhos. Contam, sempre, com o silêncio conivente de parcela da população, que não se preocupa com isso até que o problema, devidamente armado e violento, venha a bater em sua porta. E quando isso ocorre, é tarde demais para uma reação incruenta; porque aí a democracia já sucumbiu. E então anarquistas, liberais e comunistas, dentre outros, podem experimentar a traumática, e curiosa, experiência de se unir na cadeia.

A notícia de que oito integrantes da Federação Anarquista Gaúcha foram indiciados por crimes contra a honra, incitação ao crime e formação de quadrilha ou bando - e que outros tantos dirigentes de entidades sindicais e movimentos sociais o virão a ser nos próximos dias - em razão das denúncias que fazem das ilegalidades praticadas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, sob o comando de Yeda Rorato Crusius, após inquérito policial concluído em tempo recorde, é o mais grave atentado já praticado contra uma associação política no Rio Grande e no Brasil, desde a redemocratização do país.

Nem o regime militar, em seu declínio, a partir de 1979, não tinha mais força e coragem para praticar atos de tamanha insanidade, a exemplo deste.

Sintomaticamente, o citado inquérito policial foi concluído justamente por uma Distrital, a 17ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, que se tornou conhecida por acumular em suas dependências milhares e milhares de inquéritos inconclusos, sob a alegação de falta de estrutura operacional. Dentre as características desta Distrital, está a de situar-se ao lado do prédio da Secretaria de Segurança Pública do Estado; hoje comandada por um General da Reserva do Exército Brasileiro; e ter-se especializado em instaurar inquéritos contra adversários políticos da Governadora do Estado e de agentes do seu Governo; dentre esses este articulista, que igualmente tem lá contra si ao menos dois inquéritos em andamento, por razões políticas.

Além de todas as acusações não respondidas que pesam sobre sua gestão, Yeda Rorato Crusius deve agora também ser responsabilizada por esse odioso, brutal, covarde e autoritário atentado à liberdade de expressão, manifestação e direito de associação, todos constitucionalmente previstos e base fundamental de qualquer democracia que como tal queira ser reconhecida.

Qualquer governante minimamente comprometido com o juramento que fez ao ser empossado no cargo; de defender e garantir a democracia que permitiu sua eleição; embora se julgando ofendido pessoalmente pelas manifestações de contrariedade do povo; deve ter a grandeza de não utilizar-se de instrumentos, mesmo que legais, para silenciar os que lhes são contrários. A isso se chama postura de Estadista; ou seja, a capacidade de colocar-se acima de questões menores, incompatíveis com a posição que ocupa; e entender a crítica mais dura como um direito dos cidadãos que lhe delegaram o poder que exerce.

Como desconhece o que significa ser uma Estadista, e tal tem demonstrado desde o momento que colocou seus pés no Palácio Piratini, no maior erro político já cometido na história do Rio Grande, Yeda Rorato Crusius dá mais uma clara demonstração de desrespeito à democracia, à liberdade e à cidadania.

A partir desse momento, todos nós, que denunciamos os abusos praticados por um governo democraticamente eleito; tal qual o de Adolf Hitler, em 1933; e que se transformou, dia-a-dia, em agente de espoliação, apropriação indébita e aparelhamento do Estado em benefício de uma camarilha, e agora algoz de seus cidadãos; estamos sujeitos à ação de sua polícia política.

Ou denunciamos já esse estado de coisas, suplantando quaisquer diferenças de caráter partidário ou ideológico, unindo todas as forças que defendem a liberdade nesse Estado; apelando inclusive para organismos internacionais, para que nos ajudem na denúncia e resistência a esses descalabros; ou seremos cúmplices do assassínio da nossa democracia.

E nem poderemos alegar, então, que o tiro foi pelas costas. Porque todos nós temos absoluta clareza e visão do que está acontecendo no Rio Grande.

Só nos resta partir das palavras para a ação. Só nos falta, verdadeiramente, reagir.

(*) Advogado

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

UM BOM FIM-DE-SEMANA A TODOS E A TODAS

Nossos leitores com certeza notaram que, esta semana, optamos por postar questões relativas a uma das lutas travadas por todos aqueles que creem que um novo mundo é possível. Foi a maneira que encontramos de homenagear e comemorar a data de hoje. Desejamos a todos os companheiros e companheiras que estão na luta por um mundo melhor, sem nenhum tipo de preconceito, força e sorte. Informamos aos interessados em participar das lutas relativas à consciência negra, que a ASUFPel formou o GT Negros e Negras para assessorar a Direção. E não esqueçam: aguardamos a presença de todos em nosso happy hour!

MISSISSIPI EM CHAMAS - Um filme contra a impunidade

Sem o filme "Mississipi em Chamas" ("Mississippi Burning"), do diretor britânico Alan Parker, poucos se recordariam hoje da morte de três ativistas dos direitos civis no sul segregacionista dos Estados Unidos, em junho de 1964. Nesta terça-feira, 41 anos depois dos fatos, um ex-integrante da Ku Klux Klan (KKK) do Mississippi, Edgar Ray Killen, de 80 anos, foi declarado culpado pelo assassinato destes três jovens por um tribunal da Filadélfia (Mississipi, sul dos EUA).
Convencido de que o cinema tem verdadeiramente um papel político a desempenhar, Parker filmou "Mississippi em Chamas" em 1988. O filme conta a história trágica de três ativistas dos direitos civis assassinados durante o "Verão da Liberdade" de 1964, quando centenas de jovens militantes chegavam ao sul segregacionista para ajudar os negros a se registrarem nas listas eleitorais.
O filme mostra, particularmente, a investigação de dois agentes do FBI (polícia federal americana), que utilizaram métodos diferentes para desmascarar os autores desse crime racista. Oriundo do sul, Rupert Anderson, interpretado de forma marcante por Gene Hackman, mostrava suavidade, enquanto Alan Ward (William Dafoe), vindo do norte, dava socos na mesa. A astúcia de Anderson e a perseverança de Ward puseram um fim à lei do silêncio e ao medo que imperava no sul.
Rodado em apenas dois meses e meio no Alabama (sul), o filme recebeu sete indicações ao Oscar, entre elas a de melhor diretor, e conquistou o de melhor fotografia.
Parker recebeu também o prêmio D.W. Griffith do National Board of Review pela direção. "Mississippi em Chamas" recebeu outros três prêmios da Academia Britânica (com um total de cinco indicações) e o Urso de Prata do Festival de Berlim.

Retirado da página:www.seresteros.com

LEITURA: Doces Delicadezas do Brasil

Senhoras e senhores, fosse eu um espírita kardecista e colocaria na lápide do meu túmulo a inscrição: “Vou ali e já volto”. E voltaria mil vezes para o Brasil. Como, porém, me foi reservado outro destino no Orum misterioso, contento-me em viver ao máximo esta minha pequena passagem pela terra da qual levarei, na memória ancestral, somente as delicadezas.

Se alguém me pergunta do que mais sentirei saudade, respondo sem titubear: sentirei saudade dos doces brasileiros, responsáveis por adoçar a vida, por vezes amarga, que levamos cá nos trópicos. Saudades do mungunzá, da canjica, da pamonha, do pé-de-moleque, da paçoca – tão queridos nas comemorações de Santo Antônio, São João e São Pedro...

Sentirei saudades da tapioca molhada, da geleia de araçá, do licor de rosa, do sorvete de mangaba, do quindim, da cocada, do suspiro. E também da rapadura, da goiabada com queijo, do pudim de leite, do doce de laranja cristalizado, do doce de abóbora, da ambrosia, do abricó, da marmelada e do sonho-de-freira.

Aprendi a doçura brasileira na cozinha da avó. Fui uma criança suja de açúcar a ajudar no preparo dos quitutes com os quais as visitas se refastelavam no meio da tarde. Hoje, na idade adulta, sigo pecando contra a dieta e contra a nutrição científica, mas não peco contra o paladar: não há banana crua que seja superior em gosto a uma banana assada com canela. Sou devoto do açúcar.

Não por acaso, o livro de Gilberto Freyre que mais gosto não é o clássico Casa Grande & Senzala, mas o pouco lembrado Açúcar – uma sociologia do doce, publicado originalmente em 1939. É a primeira obra a tratar a culinária brasileira como um gesto tão identificador de nossas raízes quanto o samba e a macumba.

Lembro-me, vagamente, de uma preta velha que vi um dia, pregando na zona portuária do Rio de Janeiro, com um tabuleiro repleto de doces. O pregão parecia um lamento africano e trazia certa tristeza numa palavra desconhecida para mim: “Eh, alfenim! Eh, alfenim!”.

Anos mais tarde, descobri que alfenim era uma massa de açúcar que, levada ao forno, podia ser moldada e ganhava formas de peixe, cachimbo, estrela, chapéu ou coração. Ficou sendo, aquela mulher, a personificação da culinária brasileira: doce, ancestral e delicada.

No caso específico dos doces, o que chamamos de “alma do Brasil” parece estar ainda mais presente nas velhas receitas de família. Como diz Gilberto Freyre, “numa velha receita de doce ou de bolo há uma vida, uma constância, uma capacidade de vir vencendo o tempo sem vir transigindo com as modas”.

É assim que eu quereria a minha vida: doce e eterna, como a receita do alfenim que a preta velha ainda apregoa no cais generoso da minha infância.

Retirado do blog:www.botequimdobruno.blogspot.com

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pesquisa revela oposição de jornais e revistas contra agenda da população negra

Em artigo na Carta Maior, Venício Lima apresenta resultados de uma pesquisa realizada pelo Observatório Brasileiro de Mídia que revela o posicionamento contrário de grandes revistas e jornais brasileiros em relação aos principais pontos da agenda de interesse da população afrodescendente (ações afirmativas, cotas, Estatuto da Igualdade Racial e demarcação de terras quilombolas). A pesquisa analisou 972 matérias publicadas nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, e 121 nas revistas semanais Veja, Época e Isto É – 1093 matérias, no total – ao longo de oito anos.

No período compreendido entre 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2008, foi acompanhada a agenda da promoção da igualdade racial e das políticas de ações afirmativas em torno dos seguintes temas: cotas nas universidades, quilombolas, ação afirmativa, estatuto da igualdade racial, diversidade racial e religiões de matriz africana.

Com graus diferentes, os jornais observados se posicionaram contrariamente aos principais pontos da agenda de interesse da população afrodescendente. A argumentação central dos editoriais é de que esses instrumentos de reparação promovem racismo. Em relação à demarcação das terras quilombolas, os textos opinativos criticaram o Decreto n.º 4.887/2003 que regulamenta a demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. O argumento principal foi o de que o critério da autodeclaração é falho e traz insegurança à propriedade privada.

A cobertura oferecida pelo jornal O Globo merece uma atenção especial no artigo:

O jornal dedicou 38 editoriais sobre os vários temas pesquisados, destes 25 ou 65,8% trataram especificamente de “cotas nas universidades”. Os três jornais publicaram 32 editoriais sobre o mesmo assunto. O Globo foi, portanto, responsável por 78% deles. Ainda que os principais argumentos contrários – as cotas e ações afirmativas iriam promover racismo (32%) ou os alunos cotistas iriam baixar o nível dos cursos (16%) – não tenham se confirmado nas instituições que implementaram as cotas, a posição editorial de O Globo não se alterou nos 8 anos pesquisados.

A pesquisa aponta ainda que, embora a maioria dos estudos e pesquisas realizadas por instituições como IBGE, IPEA, SEADE, OIT, UNESCO, ONU, UFRJ, IBOPE e DATAFOLHA, no período analisado, confirmem o acerto das políticas de ação afirmativa, apenas 5,8% dos textos publicados nos jornais noticiaram e debateram os dados revelados.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

CORTA A COTA!

Por Leandro Fortes,jornalista da Carta Capital

Enquanto interessava às elites brasileiras que a negrada se esfolasse nos canaviais e, tempos depois, fosse relegada ao elevador de serviço, o conceito de raça era, por assim dizer, claríssimo no Brasil. Tudo que era ruim, cafona, sujo ou desbocado era “coisa de preto”. Nos anos 1970 e 1980, na Bahia, quando eu era menino grande, as mulheres negras só entravam nos clubes sociais de Salvador caso se sujeitassem a usar uniforme de babá. Duvido que isso tenha mudado muito por lá. Na cidade mais negra do país, na faculdade onde me formei, pública e federal, era possível contar a quantidade de estudantes e professores negros na palma de uma única mão.

Pois bem, bastou o governo Lula arriscar-se numa política de ações afirmativas para a high society tupiniquim berrar para o mundo que no Brasil não há racismo, a escrever que não somos racistas. Pior: a dizer que no Brasil, na verdade, não há negros.

Antes de continuar, é preciso dizer que muita gente boa, e de boa fé, acha que cota de negros nas universidades é um equívoco político e uma disfunção de política pública de inserção social. O melhor seria, dizem, que as cotas fossem para pobres de todas as raças. Bom, primeiro vamos combinar o seguinte: isso é uma falácia que os de boa fé replicam baseados num raciocínio perigosamente simplista. Na outra ponta, é um discurso adotado por quem tem vergonha de ter o próprio racismo exposto e colocado em discussão. Ninguém vê isso escrito em lugar nenhum, mas duvido que não tenha ouvido falar – no trabalho, na rua, em casa ou em mesas de bares – da tese do perigo do rebaixamento do nível acadêmico por conta da presença dos negros nos redutos antes destinados quase que exclusivamente aos brancos da classe média para cima – paradoxalmente, os bancos das universidades públicas.

Há duas razões essenciais que me fazem apoiar, sem restrições, as cotas exclusivamente para negros. A primeira delas, e mais simples de ser defendida, é a de que há um resgate histórico, sim, a ser feito em relação aos quatro milhões de negros escravizados no Brasil, entre os séculos XVI e XIX , e seus descendentes. A escravidão gerou um trauma social jamais sequer tocado pelo poder público, até que veio essa decisão, do governo do PT, de lançar mão de ações afirmativas relacionadas à questão racial brasileira – que existe e é seríssima. Essa preocupação tardia das elites e dos “formadores de opinião” (que não formam nada, muito menos opinião) com os pobres, justamente quando são os negros a entrar nas faculdades (e lá estão a tirar boas notas) é mais um traço da boçalidade com a qual os crimes sociais são minimizados pela hipocrisia nativa. Até porque há um outro programa de inserção universitária, o Prouni, que cumpre rigorosamente essa função. O que incomoda a essa gente não é a questão da pobreza, mas da negritude. Há contra os negros brasileiros um preconceito social, econômico, político e estético nunca superado. O sistema de cotas foi a primeira ação do Estado a enfrentar, de fato, essa situação. Por isso incomoda tanto.

A segunda razão que me leva a apoiar o sistema de cotas raciais é vinculado diretamente à nossa realidade política, cínica, nepotista e fisiológica. Caso consigam transformar a cota racial em cota “para pobres”, as transações eleitoreiras realizadas em torno dos bens públicos irão ganhar um novo componente. Porque, como se sabe, para fazer parte do sistema, é preciso se reconhecer como negro. É preciso dizer, na cara da autoridade: eu sou negro. Alguém consegue imaginar esses filhinhos de papai da caricata aristocracia nacional, mesmo os mulatinhos disfarçados, assumindo o papel de negro, formalmente? Nunca. Preferem a morte. Mas se a cota for para “pobres”, vai ter muito vagabundo botando roupa velha para se matricular. Basta fraudar o sistema burocrático e encher as faculdades públicas de falsos pobrezinhos. Ou de pobrezinhos de verdade, mas selecionados nas fileiras de cabos eleitorais. Ou pobrezinhos apadrinhados por reitores. Pobrezinhos brancos, de preferência.

Só um idiota não percebe a diferença entre ser pobre branco e pobre negro no Brasil. Ou como os negros são pressionados e adotam um discurso branco, assim que assumem melhores posições na escala social. Lembro do jogador Ronaldo, dito “Fenômeno”, ao comentar sobre as reações racistas das torcidas nos estádios europeus. Questionado sobre o tema, saiu-se com essa: “Eu, que sou branco, sofro com tamanha ignorância”. Fosse um perna-de-pau e tivesse que estudar, tenho dúvidas se essa seria a impressão que Ronaldo teria da própria cor, embora seja fácil compreender os fundamentos de tal raciocínio em um país onde o negro não se vê como elemento positivo, seja na televisão, seja na publicidade – muito menos nas universidades.

O fato é que somos um país cheio de racistas. Até eu, que sou branco, sou capaz de perceber.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Estudo mostra que número de negros assassinados é o dobro de brancos

Da Agência Câmara

Em depoimento à CPI da Violência Urbana, o economista Marcelo Paixão, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, divulgou estudo que mostra que o número de
negros assassinados no Brasil é duas vezes maior que o de brancos, apesar de cada
grupo representar cerca de metade da população do País.

A conclusão é baseada em dados do Sistema Único de Saúde (SUS) referentes aos anos
de 2006 e 2007. Nesses dois anos, cerca de 60 mil negros foram assassinados e cerca
de 30 mil brancos. As pesquisas mostram que entre as crianças e jovens de 10 a 24
anos se constata a maior diferença entre os homicídios de negros e brancos.

Marcelo Paixão afirmou que os jovens negros estão mais expostos e que as
desigualdades só aumentaram nos últimos anos. "É preciso identificar que as causas
disso estão relacionadas ao racismo institucional, às políticas de segurança
pública
que ainda entendem a população negra como inimiga do estado, à baixa qualidade da
escola desses jovens, que está relacionada com uma maior exposição à pobreza; quer
dizer, é um círculo de desgraças."

Ele afirmou que o atual governo não tem disposição política para enfrentar o
racismo
nas políticas de segurança pública.

Para o deputado Luiz Alberto (PT-BA), autor do requerimento de convocação do
depoente, o atual governo não adota políticas de cunho racista. Ele sustentou
que as
instituições brasileiras foram forjadas em uma história de escravidão, e, portanto,
foram contaminadas por uma visão racista da sociedade brasileira.

Auto de resistência
A presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra da Bahia, Vilma
Reis, trouxe à comissão um dossiê elaborado pela campanha "Reaja ou será morto,
reaja ou será morta". A campanha, iniciada em 2005 na Bahia, denuncia a matança de
jovens, na sua maioria negros, por agentes do Estado e paramilitares.

Ela lembrou que, a partir de 1969, com a vigência do AI-5, as polícias militares
passaram a utilizar o chamado "auto de resistência" como o álibi para a prática de
assassinatos, sob pretexto de resistência à autoridade policial. Ela estimulou a
CPI
a instigar os três Poderes a acabarem com o auto de resistência, o que para ela
tiraria o álibi de policiais que se sentem livres para matar com a certeza de que
não vão ser investigados.

"O auto de resistência, no nosso entendimento, é uma licença para matar, porque as
pessoas estão sendo executadas sumariamente, sem qualquer chance de defesa.
Quando a
perícia é feita, é verificado que essas pessoas estavam em baixo de cama, dormindo,
que a casa foi destelhada, que a casa foi invadida, e elas morreram com um tiro de
misericórdia."

Segundo Vilma Reis, os assassinatos de negros se estendem a Pernambuco, Espírito
Santo, Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás e outras metrópoles do País.

Ela denunciou também os programas regionais de televisão que violam direitos
humanos
ao expor pessoas sob custódia do Estado à execração pública, promovendo sua
condenação sem que tenham sido julgadas. Em sua opinião, a proibição a esses tipos
de programas não é censura.

A presidente defendeu ainda que os recursos do Pronasci não sejam utilizados na
compra de armamentos, viaturas e construção de novos presídios.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Assaltos constantes aterrorizam comunidade acadêmica nos Campi da região do Porto

Quem trabalha ou estuda nos Campi da região do Porto não convive somente com a poeira, ruídos e eventuais falta de água. Outro problema está causando pânico na comunidade : os constantes assaltos, inclusive com agressões.
Alunos, professores e técnico-administrativos são as principais vítimas. Relatos impressionantes nos chegam, como o da filha de uma professora do IAD que foi assaltada, na semana passada, às 10h, por um bandido que lhe colocou uma faca no pescoço. No mesmo dia assaltaram um rapaz que saía da FaUrb, à noite. A nossa colega Rosane Brandão também viveu o drama na pele dias atrás. Numa mesma semana, uma estudante do curso de Teatro Licenciatura foi assaltada duas vezes, ambos na rua Conde de Porto Alegre. No primeiro, às 10h, o bandido levou uma filmadora da universidade. No segundo assalto, a vítima teve que entregar para dois bandidos de moto sua bolsa com dinheiro, documentos, cartões, cadernos, livro, entre outros.

O GT Segurança da ASUFPel-Sindicato está pedindo providências imediatas à Reitoria.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

DICA DE FILME: O DESAPARECIDO

No auge da ditadura de Pinochet, no Chile, jovem escritor americano desaparece, seu pai viaja dos Estados Unidos para encontrá-lo e descobre desinteresse e desconfiança entre membros da embaixada de seu país. Baseado na história real de Charles Horman, com Jack Lemmon em grande papel dramático.

Gênero: Drama
Tempo: 122 min.
Lançamento: 1982
Distribuidora: Universal Pictures


Estrelando: Jack Lemmon, Sissy Spacek, Melanie Mayron, John Shea, Charles Cioffi, David Clennon, Richard Venture, Jerry Hardin.
Dirigido por: Costa-Gavras

PLANO DE CARREIRA: SIMP DENUNCIA MANOBRA DO GOVERNO MUNICIPAL

O Sindicato dos Municipários de Pelotas (Simp) critica a postura do Governo Municipal que, por meio da Secretaria Municipal de Educação, desconsidera todo o encaminhamento da categoria relativamente ao plano de carreira dos municipários, chamando reunião com diretores das escolas para iniciar o debate sobre a construção de um plano de carreira. As reuniões estão ocorrendo desde a última segunda-feira a tarde na SME.

O Simp não foi convidado para participar destas reuniões.

“Chamar as direções das escolas e formar comissões dirigidas pelo Governo não têm o objetivo de construir uma proposta efetivamente democrática, mas sim de respaldar um plano de carreira de gabinete e sem a participação dos municipários”, critica o presidente do Simp, Duglas Lima Bessa.

Para o Simp, qualquer discussão de plano de carreira tem de partir do texto que foi entregue ao secretário de Governo, Abel Dourado, em três de novembro, e que é o resultado de seis anos de trabalho e de análise por todos os fóruns de discussão da categoria, recentemente atualizado e respaldado pelas comissões amplamente representativas de servidores e professores que realizaram este trabalho. A proposta da categoria e que já está com a Prefeitura é de um plano único para todos, sejam servidores, sejam professores.

“Nossa proposta está atualizada pela legislação mais recente, como a Lei do Piso Salarial Nacional para os Trabalhadores da Educação, alterações constitucionais e a lei que define que todos os servidores de escolas são trabalhadores da educação”.

Além destas atualizações, a proposta da categoria envolve outros avanços, há muito buscados, como a previsão de variações nos valores dos incentivos para diferentes níveis de pós-graduação, dedicação exclusiva, extensão das eleições para escolas de educação infantil e padrão salarial mínimo superior em trinta por cento ao salário mínimo nacional.

A proposta de plano de carreira que atualiza a Lei 3.198, que rege a educação hoje, e que é o resultado de um amplo trabalho pela categoria, já está no “site” http://www.simpelotas.com.br/index.php , assim como as tabelas dos mais diversos padrões salariais e todos os cargos e funções. Além disso, o Simp já está enviando para os endereços eletrônicos de servidores e professores uma cartilha informativa e explicativa sobre a proposta da categoria.

Em breve todos os setores receberão a cartilha de forma impressa.

“Temos que ter cuidado com algo proposto pelo Executivo sem passar pelos legítimos fóruns da categoria, pois o contexto do Governo instalado em Pelotas é o de ter políticas de isentar grandes empresas, de restringir direitos dos servidores através de decreto, de tentar implementar reajuste de contribuição previdenciária reconhecida como ilegal pelo Judiciário, de perseguir politicamente os servidores, de descontar salários relativos a paralisações legítimas da categoria e que desde 2005 repõe somente o índice do INPC nos salários, dentre outros desrespeitos a categoria”, finaliza o presidente do Simp.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

INFRA-ESTRUTURA DEFICITÁRIA NO CAMPUS ANGLO

Quem trabalha no Campus Anglo sofre há dois dias com a falta de água para suprir as necessidades básicas. “ O problema se repete a cada semana. Tentei agora pela manhã usar o banheiro mas tive arcadas de vômito. Nem os banheiros dos alunos apresentam condições mínimas de uso”, revela um funcionário que prefere não se identificar. “ Eles arrumam, daqui um ou dois dias o problema retorna. Colegas se cotizaram hoje para comprar um galão de água”, desabafa outro funcionário.

Também chegaram reclamações à ASUFPel-Sindicato sobre o barulho insuportável. “Falta condições mínimas para se trabalhar. Nós não vamos em casa no horário do meio-dia. A reitoria precisa resolver isso definitivamente”.

Resposta da reitoria

Em contato com o Pró-Reitor de Infraestrutura, Mário Renato Amaral, ele reconheceu o problema e justificou a falta de água devido a troca da caixa d'água que abastece o local. “ Tudo estará normalizado ainda hoje”, prometeu Amaral. Ele só não garantiu que a falta de água não se repetirá. “ Dependemos do abastecimento que é feito pelo Sanep. Não podemos garantir que não haverá mais falta de água.” Sobre os ruídos constantes, o Pró-Reitor disse que eles se devem as obras que estão em andamento no prédio e até o término do trabalho "teremos que conviver com alguns problemas localizados".

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

MODERAÇÃO DE COMENTÁRIOS ANÔNIMOS

Embora já tenhamos informado em postagem específica, necessitamos explicar o funcionamento da moderação de comentários, pois talvez não tenha ficado suficientemente claro. A moderação de comentários é necessária para evitar problemas legais em função da troca de ofensas pessoais que pode acontecer em um espaço virtual como esse. A ASUFPel não pode se responsabilizar por comentários que atinjam pessoas com calúnia/injúria/difamação, a não ser que o autor do comentário assine de forma que possamos identificá-lo para prestar esclarecimentos. No caso específico do anônimo que, repetidamente, encaminha postagem que não estão sendo publicadas sobre fatos que afirma serem verídicos, solicitamos que envie um e.mail para asufpel@gmail.com. Podemos responder a todas as dúvidas colocadas, mas não é possível tornar públicas as suas informações, pois elas não correpondem a total realidade dos fatos. Estes são os motivos de seus comentários terem sido excluídos pela moderação do blog.

PLENÁRIA DA FASUBRA

Informamos que as decisões deliberadas na última plenária, realizada este fim-de-semana, já estão a disposição na página da FASUBRA www.fasubra.org.br.
O link para acessar a notícia é http://www.novoportal.fasubra.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=183:plenaria-nacional-estatutaria&catid=5:plenaria&Itemid=19

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O urro ancestral da faculdade injuriada

Universitários que encurralaram a colega de vestido curto não eram delirantes: eram agressores

Debora Diniz* - O Estado de S.Paulo

O caso não caberia nem em um folhetim vulgar, não fosse o YouTube denunciando a verdade. A "puta da faculdade" é uma história bizarra: uma mulher de 20 anos é vítima de humilhações. A razão foi um vestido rosa e curto que a fazia se sentir bonita. Sem ninguém saber muito bem como o delírio coletivo teve início, dezenas de pessoas passaram em coro a gritar "puta" e ameaçá-la de estupro. A saída foi esconder-se em uma sala, sob os urros de uma multidão enfurecida pela falta de decoro do vestido rosa. Além da escolta policial, um jaleco branco a protegeu da fúria agressiva dos colegas que não suportavam vê-la em traje tão provocante.

Colegas de faculdade, professores e policiais foram ouvidos sobre o caso. O fascínio compartilhado era o vestido rosa. Curto, insinuante, transparente foram alguns dos adjetivos utilizados pelos mais novos censores do vestuário da sociedade brasileira. "A roupa não era adequada para um ambiente escolar", foi a principal expressão da indignação moral causada pelo vestido rosa. Rapidamente um código de etiqueta sobre roupas e relações sociais dominou a análise sociológica sobre o incidente. Não se descreveu a histeria como um ato de violência, mas como uma reação causada pela surpresa do vestido naquele ambiente.

O que torna a história única é o absurdo dos fatos. Um vestido rosa curto desencadeia o delírio coletivo. E o delírio ocorreu nada menos do que em uma faculdade, o templo da razão e da sabedoria. Os delirantes não eram loucos internados em um manicômio à espera da medicação ou marujos recém-atracados em um cais após meses em alto-mar. Eram colegas de faculdade inconformados com um corpo insinuante coberto por um vestido rosa. Mas chamá-los de delirantes é encobrir a verdade. Não há loucura nesse caso, mas práticas violentas e intencionais. Esses jovens homens e mulheres são agressores. Eles não agrediram o vestido rosa, mas a mulher que o usava para ir à faculdade.

Não há justificativa moral possível para esse incidente. Ele é um caso claro de violência contra a mulher. Ao contrário do que os censores do vestuário possam alegar, não há nada de errado em usar um vestido rosa curto para ir às aulas de uma faculdade noturna. As mulheres são livres para escolher suas roupas, exibirem sua sensualidade e beleza. A adequação entre roupas e espaços é uma regra subjetiva de julgamento estético que denuncia classes e pertencimentos sociais. Não é um preceito ético sobre comportamentos ou práticas. Mas inverter a lógica da violência é a estratégia mais comum aos enredos da violência de gênero.

A multidão enfurecida não se descreve como algoz. Foi a jovem mulher insinuante quem teria provocado a reação da multidão. Nesse raciocínio enviesado, a multidão teria sido vítima da impertinência do vestido rosa. As imagens são grotescas: de um lado, uma mulher acuada foge da multidão que a persegue, e de outro, do lado de quem filma, dezenas de celulares registram a cena com a excitação de quem assiste a um espetáculo. Ninguém reage ao absurdo da perseguição ao vestido rosa. O fascínio pelo espetáculo aliena a todos que se escondem por trás das câmaras. Quem sabe a lente do celular os fez crer que não eram sujeitos ativos da violência, mas meros espectadores.

Pode causar ainda mais espanto o fato de que a multidão não tinha sexo. Homens e mulheres perseguiam o vestido rosa com fúria semelhante. Há mesmo quem conte que a confusão foi provocada por uma estudante. Mas isso não significa que a violência seja moralmente neutra quanto à desigualdade de gênero. É uma lógica machista a que alimenta sentimentos de indignação e ultraje por um vestido curto em uma mulher. A sociologia do vestuário é um recurso retórico para encobrir a real causa da violência - a opressão do corpo feminino. Não é o vestido rosa que incomoda a multidão, mas o vestido rosa em um corpo de mulher que não se submete ao puritanismo.

Não há nada que justifique o uso da violência para disciplinar as mulheres. Nem mesmo a situação hipotética de uma mulher sem roupas justificaria o caso. Mas parece que uma mulher em um vestido insinuante provoca mais fúria e indignação que a nudez. O vestido rosa seria o sinal da imoralidade feminina, ao passo que a nudez denunciaria a loucura. A verdade é que não há nem imoralidade, nem loucura. Há simplesmente uma sociedade desigual e que acredita disciplinar os corpos femininos pela violência. Nem que seja pela humilhação e pela vergonha de um vestido rosa.

*Antropóloga, professora da UnB e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Secretaria de Políticas para as Mulheres cobra explicação sobre expulsão de universitária

A ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), informou hoje (8) que vai cobrar da Universidade Bandeirante (Uniban) explicações sobre a decisão de expulsar uma aluna que usava um vestido curto e sobre o andamento das medidas contra estudantes que a “atacaram verbalmente”.

Nilcéa condenou a decisão de expulsar a universitária e disse que a atitude da escola demonstra “absoluta intolerância e discriminação”. “Isso é um absurdo. A estudante passou de vítima a ré. Se a universidade acha que deve estabelecer padrões de vestimenta adequados, deve avisar a seus alunos claramente quais são esses padrões”, disse a ministra à Agência Brasil, ao chegar para participar do seminário A Mulher e a Mídia.

Segundo a ministra, a ouvidoria da SPM já havia solicitado à Uniban explicações sobre o caso, inclusive perguntando quais medidas teriam sido tomadas contra os estudantes que hostilizaram a moça. Amanhã (9), a SPM deve publicar nova nota condenando a medida e provocando outros órgãos de governo como o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério da Educação (MEC) a se posicionarem.

As cerca de 300 participantes do seminário A Mulher e a Mídia decidiram divulgar, ainda hoje, moção de repúdio à Uniban pela expulsão da estudante Geyse Arruda, que foi hostilizada no dia 22 do mês passado por cerca de 700 colegas, por usar um vestido curto durante as aulas. Aluna do primeiro ano do curso de turismo, Geyse foi expulsa da instituição, que tem sede em São Bernardo do Campo (SP). A decisão foi divulgada em nota paga publicada hoje em jornais paulistas.

A decisão da Uniban também foi reprovada pela deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), uma das participantes do seminário. Segundo a deputada, a expulsão de Geyse não se justifica e parte de um “moralismo idiota”. “Mesmo que ela fosse uma prostituta, qual seria o problema da roupa? Temos que ter tolerância com a decisão e postura de cada um”, afirmou Erundina.

A socióloga e diretora do Instituto Patrícia Galvão, Fátima Pacheco, discordou da expulsão da aluna e questionou o argumento da universidade de que ela “teria tido uma postura incompatível com o ambiente acadêmico”, conforme diz a nota da Uniban. “Ela não infringiu nada. Ela estava vestida do jeito que gosta, da maneira que acha adequado para seu o corpo e a interpretação do abuso, da falta de etiqueta é uma interpretação que não tem sentido"’, disse Patrícia.

“É uma reação à mulher e à autonomia sobre o seu corpo. Não se faz isso com rapazes sem camisa, com cueca para fora ou calças rasgadas”, completou a socióloga.

Para a psicóloga Rachel Moreno, do Observatório da Mulher, a reação dos estudantes e da universidade refletem posições contraditórias e "hipócritas” da sociedade em relação à mulher. “Por um lado, a nossa cultura diz que a mulher tem que ser valorizar o corpo, afinal de contas, tem que ser bonita, tem ser gostosa e tem que se mostrar. Por outro lado, a mulher é punida quando assume tudo isso com tranqüilidade.”

Isso quer dizer que, para a sociedade, em termos de sexualidade, a mulher deve ser objeto de desejo e não de manifestar o seu desejo, sua sensualidade, concluiu Rachel.

O Movimento Feminista de São Paulo prepara manifestação para amanhã (9), às 18 horas, em frente à Uniban. Na convocação, o movimento pede que as manifestantes compareçam usando minissaias ou vestidos curtos.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) também condenou a decisão da Uniban.

Retirado do blog: www.radio-com.blogspot.com

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

UM BOM FIM-DE-SEMANA A TODOS E A TODAS

Deixamos um texto e a dica de filme.Esperamos que apreciem. Lembramos que, no fim da tarde de hoje, temos o nosso Happy Hour,na sede do Sindicato. Na próxima segunda-feira retornamos com mais postagens. Informamos que não fazemos nenhuma postagem ou moderação de comentários em fim-de-semana. Um abraço.

SUGESTÃO DE FILME - TIROS EM COLUMBINE

Documentário dirigido por Michael Moore

Sinopse:
Documentário que investiga a fascinação dos americanos pelas armas de fogo. Michael Moore, diretor e narrador do filme, questiona a origem dessa cultura bélica e busca respostas visitando pequenas cidades dos Estados Unidos, onde a maior parte dos moradores guarda uma arma em casa. Entre essas cidades está Littleton, no Colorado, onde fica o colégio Columbine. Lá os adolescentes Dylan Klebold e Eric Harris pegaram as armas dos pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitório. Michael Moore também faz uma visita ao ator Charlton Heston, presidente da Associação Americana do Rifle.



elenco:
Michael Moore (Michael Moore)
Denise Ames (Garota sexy com arma)
Charlton Heston (Charlton Heston)
Marilyn Manson (Marilyn Manson)
Matt Stone (Matt Stone)
Barry Galsser (Barry Galsser)
John Nichols (John Nichols)

O TEMPO E AS JABUTICABAS - RUBENS ALVES

'Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão-somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'O essencial faz a vida valer a pena.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

ASSEMBLÉIA GERAL DA ASUFPEL - 04/11

Foi realizada, hoje, na sede do Sindicato, assembléia geral da categoria.

Informes locais e nacionais:

Festa de fim-de-ano e Happy Hour;
Curso de Formação na sede da ASUFPel, promovido pelo SIMP (interessados deverão se dirigir a mesa coordenadora dos trabalhos até o fim da assembléia);
Informes sobre o processo de moderação de comentários no blog da ASUFPel;
Indicação dos nomes dos coordenadores Darci e Rosane para a Comissão Provisória da Direção Regional da CUT;
Marcha da CUT em Brasília, de 9 a 13/11: a CUT Regional disponibilizará um ônibus(10 lugares reservados para a ASUFPel). Os interessados deverão se inscrever até amanhã, na sede da ASUFPel.

Pauta:

- Indicação dos nomes da Coordenadora Zedeni e Maria Tereza para representar a ASUFPel na Plenária da FASUBRA e Encontro de Aposentados, aposentandos e pensionistas;

- Discussão sobre Capacitação. Foi aprovada a proposta que a ASUFPel, juntamente com a CIS, agende uma reunião com o reitor para discutir o processo movido por alguns trabalhadores da categoria. As colegas que representarão a categoria na plenária do dia 7/11 deverão cobrar da FASUBRA mobilização em relação ao tema;

- Discussão sobre a situação do CAVG (desvinculação da UFPel) e sobre a Reestruturação Universitária;

SOBRE O BLOG

A Direção da ASUFPel, em reunião realizada ontem, decidiu recusar a publicação de comentários considerados ofensivos. Solicita-se que, qualquer comentário excluído e que o autor sinta-se indevidamente censurado, envie e-mail para:asufpel@gmail.com.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

REUNIÃO DA DIREÇÃO

Resumo:

Informes:

- Foi informado sobre a Marcha da CUT, este mês, em Brasília

- A ASUFPel firmou convênio com o Clube Diamantinos. Assim que definirmos algumas questões contratuais estaremos divulgando o convênio

- Informes sobre a situação do plebiscito que deverá acontecer no CAVG

Pauta:

- Assembléia: foi feita a indicação para a coordenação da Mesa da assembléia. A Direção, acatando a indicação do GT Aposentados, indicará o nome das colegas Teresa e Zedeni para participarem do Encontro de Aposentados, Aposentandos e Pensionistas, em Brasília.Indicará, também, a coordenadora Zedeni para representar a ASUFPel na Plenária da FASUBRA.

- Jornal: a Coordenação de Divulgação e Imprensa solicita que enviem as pautas para que se possa confeccionar o jornal da categoria. Convoca reunião do Conselho Editorial para a próxima segunda-feira, às 14h.

- O Instituto Mário Alves solicita apoio para o lançamento do livro: Dossiê Ditadura, que pode ser adquirido no site Estante Virtual.

- A Coordenação de Esporte, Cultura e Lazer informa e discute sobre os preparativos para a Festa de Fim de Ano.

- Blog da ASUFPel: a Direção define que a moderação do blog deverá ter um critério mais rigoroso em relação a comentários feitos. Ressalve-se que não haverá censura em relação a opiniões, entretanto, tentaremos preservar nomes que forem citados inoportunamente ou com manifestações grosseiras e versões de fatos que não se comprovam. A Coordenação de Divulgação e Imprensa solicitará, em assembléia, e através do blog, que os comentaristas tentem não ofender colegas e, na medida do possível, tentem se identificar nas postagens. Todos entendem que o debate será mais profícuo com a devida identificação dos comentaristas. Deve ser divulgado o e-mail do Sindicato para, caso algum comentário não seja postado, e a pessoa se sentir censurada, entre em contato com a Direção.

- Foi discutido encaminhamentos para o Happy Hour da ASUFPel, dia 06/11.

CONVITE LANÇAMENTO DE LIVRO

A Editora e Gráfica Universitária, da Universidade Federal de Pelotas, e as professoras Edla Eggert (Unisinos) e Márcia Alves (UFPel) têm o prazer de convidá-lo(a) para o lançamento e sessão de autógrafos do livro
‘A TECELAGEM COMO METÁFORA DAS PEDAGOGIAS DOCENTES’

Local: Praça Coronel Pedro Osório – 37ª Feira do Livro de Pelotas
Dia : 12 de novembro de 2009.
Horário: 18h.

AUTORES E AUTORAS

Aline Baerli
Aline Lemos da Cunha
Edla Eggert (org.)
Elizete Santos Abreu
Fernando Vinícius Pereira de Almeida
Graziela Rinaldi da Rosa
Jackson Ronie Sá-Silva
Janaína Gomes Dantas
Márcia Alves da Silva (org.)
Maria da Graça Leão
Maria José Fernandes Porto
Marli Brun
Sabrina Forati Linhar