Relações humanas, sonhos, mudanças, limites. O diretor argentino Juan José Campanella nos questiona a todo tempo sobre estas questões no belíssimo filme “O Filho da Noiva”. A produção é um drama, que nos permitir rir em diversas passagens e se passa durante a tempestade econômica em Buenos Aires. Conta a história de Rafael Belvedere, um quarentão que passou a vida cuidando de um restaurante que herdou de seu pai, o apaixonado Nino. Porém, era um homem sem realizações pessoais. Foi abandonado pela mulher, mal conhecia sua filha adolescente, ficou quase um ano sem ver sua mãe que sofre com os primeiros sintomas do mal de Alzheimer (falta de memória) e que vive em uma clínica de idosos. Além disso, passa as madrugadas assistindo Zorro, não quer assumir compromisso algum com sua namorada, apenas leva este relacionamento. Isso tudo, acompanhado de seu enorme vício no tabaco.
Assistindo esta primeira parte do filme, nos deparamos com uma questão que comumente ronda nossa rotina: estamos nós realizados, felizes com a vida que levamos? Muitas vezes o comodismo, por praticidade ou talvez, malandragem, preguiça, nos impede de buscar nossos verdadeiros sonhos.
Na seqüência do filme, uma grande transformação se inicia na vida de Rafael. Primeiro, seu pai anuncia que quer casar na Igreja com sua esposa, quarenta anos após o inicio de seu relacionamento. Nino quer renovar esse amor e realizar um grande sonho de sua amada. Depois, o protagonista sofre com uma grave doença, chegando bem perto da morte. A partir daí, sua opção de vida muda. Ele resolve vender o restaurante, se aproximar da filha, visitar sua mãe e, finalmente, ajudar seu pai a realizar o sonho de casar novamente com sua mãe.
Até aqui, pode se pensar que o filme é apenas um grande drama. Mas a comédia relatada no inicio do texto? Bem, o humor é dado pelos bem construídos diálogos. Há diversas passagens com um ar sarcástico, todos os personagens apresentam em suas falas um tom irônico. Há, por exemplo, um diálogo entre Rafael e o padre que realizaria a cerimônia, ele diz:
- Meu filho, Deus não é homem, nem mulher, nem branco, nem negro...
-Ah, padre, esse é Michael Jackson.
Em outro momento, o amigo de infância, que representou o padre no casamento diz a um convidado:
- ...porque ele veio nos salvar e o crucificaram. (Rafael o chama de lado)
- Chega de Jesus, diz o protagonista.
- Que Jesus? Eu estava falando de Maradona, encerra o ator.
A grande sacada de Campanella foi utilizar o humor de uma maneira que pode ser entendido por qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo para tratar de um tema tão pertinente na sociedade atual.
No filme uma situação extrema foi necessária para que Rafael se desse conta que uma transformação era necessária. Será que em nossas vidas, isso é preciso? O diretor teve o compromisso de nos questionar quanto à maneira que levamos nossa vida, o comodismo e a busca por realizações.
Às vezes substituímos, ao longo do tempo, alguns sonhos mais fantasiosos por objetivos mais maduros, concretos. Mas a questão é que eles não deixam de existir, continuam fazendo parte de nossas metas. Pessoas como Rafael são facilmente encontradas, sujeitos que se rendem a realização de sonhos mais palpáveis, simples, fáceis de ser conquistados. A força pela concretização dos planos sonhados ao longo da vida, vai diminuindo, até que algo impactante aconteça para que voltemos a prestar atenção no que estamos fazendo de nossos dias.
É essencial que se pense: Quais nossos sonhos de infância, da adolescência,da vida adulta, da melhor idade? Os renovamos ao passar do tempo? Paramos para avaliar tudo que conquistamos? Não podemos deixar que a força de viver, de realizar nossos desejos se perca na rotina imposta pela vida. Vamos sonhar, mais e mais!
Esta é a minha dica! Veja e reveja esta bela produção de nossos hermanos!
O Filho da Noiva (El Hijo de la Novia). 2001. Argentina. Diretor e Roteirista: Juan Jose Campanella. Elenco: Ricardo Darin, Hector Alterio, Norma Aleandro, Eduardo Blanco, Natalia Verbeke, Gimena Nobile, Claudia Fontan. Gênero: Comédia. Duração: 124 minutos. Produção: Mariela Besuievsky. Classificação: Livre.
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Um comentário:
Baita dica!!!
Embora o drama da perda da memória da "noiva" galvanize os demais conflitos, o foco do diretor é o problema do "filho"; e o problema deste personagem é aquele de saber que não é possivel alcançar-se a honra e o reconhecimento da sociedade se não nos reconhecemos e nem somos reconhecidos na família como primeiro lugar social que ocupamos. Uma etapa exige que a outra seja suficientemente trilhada.
Gosto muito deste filme.
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