quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A blindagem teflon de Yeda

Quem acompanha de fora do Rio Grande do Sul os escândalos que envolvem o governo Yeda Crusius (PSDB), talvez não perceba o grau, o nível, de proteção com que a governadora conta por parte da imprensa local. Durante o escândalo do mensalão o termo blindagem ficou conhecido pelas denúncias da grande imprensa sobre a proteção ao presidente Lula feita pelo PT e aliados. Pois bem, em solo gaúcho inaugurou-se a blindagem teflon feita não pelos aliados de Yeda, mas pela própria imprensa. Nada gruda na imagem de administradora eficiente, austera e competente da tucana Yeda Crusius. Nem poeira.

Primeiro foram as denúncias do vice-governador, Paulo Feijó (DEM) logo nos primeiros meses. As diferenças entre Yeda e Feijó começaram logo após a eleição (talvez até durante o processo eleitoral) e ele se afastou do governo logo após a posse. Feijó foi classificado como um ressentido, Yeda o acusou pela imprensa de “querer implodir o governo”, e não mais lhe deram crédito. Ignorando rótulos, ele continuou denunciando e apresentando suas provas.

Paralelo às denúncias do vice, outros escândalos de corrupção – que pareciam menores -, foram pipocando na imprensa e se somaram ao grave caso de fraude no Detran. Entre esses “menores” estão os incentivos fiscais em projetos culturais, Banrisul, a compra da casa da governadora, caixa dois, entre outras. O caixa dois, denunciado pelo tucano Lair Ferst, lobista e arrecadador da campanha e também pivô da fraude no Detran, envolve diretamente o nome de Carlos Crusius, na época ainda marido de Yeda. As denúncias de Ferst corroboravam as já feitas por Feijó, e parecia bastar apenas a junção das peças do quebra-cabeças. Mas não com Yeda e sua blindagem especial!

As ligações das denúncias com pessoas próximas à governadora foram ficando cada vez mais claras e evidentes, e ganharam corpo com a gravação de uma conversa entre Paulo Feijó e o então chefe da Casa Civil, Cézar Busatto. Na gravação, Busatto faz uma oferta implícita de suborno ao vice-governador para que ele pare com as denúncias contra o governo e ainda explica didaticamente que o Banrisul é fonte de financiamento das campanhas do PMDB e o Detran e Daer do PP (partidos da base aliada de Yeda). A gravação foi feita pelo próprio Feijó e Busatto teve de deixar seu cargo para que o caso não atingisse a imagem da governadora. E não é que deu tempo!?

Mesmo com tantas denúncias, investigações em curso, gravações clandestinas para todo lado, no final de 2008, Yeda anunciou o “déficit zero” das contas do estado. Fato amplamente alardeado pela imprensa, reforçando sua imagem de “excelente administradora” e dando uma “lustradinha” em sua imagem.

Como se já não bastasse, teve ainda o suicídio com cara de assassinato (queima de arquivo, para ser mais exata) de Marcelo Cavalcante – “embaixador gaúcho em Brasília”, segundo palavras da governadora. Cavalcante foi encontrado morto no Lago Paranoá em fevereiro deste ano, e o caso permanece não explicado.

Além de Paulo Feijó, fizeram denúncias graves contra Yeda: Luciana Genro e Pedro Ruas (ambos do PSOL), a viúva de Marcelo Cavalcante, a Polícia Federal e o Ministério Público. Sendo que a denúncia oferecida pelo MP à justiça contra Yeda – aquela citada por Luciana Genro que quase rendeu-lhe um processo de cassação orquestrado pelo PSDB na Câmara Federal – foi o resultado final das investigações da fraude no Detran, que envolvem também a denúncia de caixa dois. O montante desviado dos cofres gaúchos, do que foi apurado até agora nesse caso, ultrapassam os 40 milhões de reais.

Yeda conseguiu retirar seu nome do processo via Justiça Federal, e ainda ameaçou denunciar os procuradores federais por perseguição junto a seus superiores, e também conseguiu arquivar o pedido de impeachment feito pelo PSOL na Assembleia Legislativa do RS. Não conseguiu evitar a CPI da corrupção – que continua na AL –, mas sem maioria, a oposição tem dificuldades até de ouvir depoimentos e realizar seções ordinárias. Apenas para registro, alguns dos depoimentos na CPI confirmam o teor de denúncias feitas. Indício de prova? Não para a valorosa e destemida imprensa gaúcha!

Após o arquivamento do impeachment, Yeda concedeu uma coletiva no Palácio Piratini onde reclamou da perseguição sofrida pelo ressentido Feijó e disse ter cometido um erro ao comprar a casa onde mora no início do mandato. O mea culpa da governadora colou e a CPI também caiu no descrédito – coisa da oposição, claro!

Independente do respeito e proteção gozados por Yeda junto à imprensa, o resultado de tantos escândalos na popularidade da governadora tucana é devastador. Entre os governadores brasileiros, Yeda tem a pior avaliação. Em pesquisa encomendada pelo Grupo RBS no início de outubro, 74% dos gaúchos desaprovam o governo Yeda, e 62% apoiam seu impeachment.

Ainda assim, é o CPERS (sindicato dos professores estaduais) o grande vilão da atual cena gaúcha, porque vai para a rua protestar ao invés de dar aula, porque mantém tão honrada líder encarcerada em sua casa e no Palácio em dias de protesto e porque ainda – pior de tudo – ofende Yeda em sua dignidade pessoal. Isso é imperdoável!

A deputada Luciano Genro – opositora ferrenha da governadora – sentenciou em seu site, no dia 06/11 [http://www.lucianagenro.com.br/2009/11/o-dilema-de-yeda/], que tanto o PSDB nacional quanto José Serra evitariam ter Yeda em seu palanque no RS, e o mais indicado para a governadora – articulado, segundo Luciana, pela direção tucana – seria renunciar e se candidatar a deputada federal para garantir a imunidade parlamentar diante dos processos já existentes e os que ainda virão. Se isso foi realmente cogitado pela direção do PSDB, não sei. Mas Luciana Genro enganou-se. Serra, acreditando na incrível resistência e eficácia da blindagem teflon de Yeda, acaba de lançá-la como sua companheira de chapa na pré-candidatura à presidente.

De minha parte, estou imensamente agradecida a Serra. Aliás, o governador paulista – já que considera Yeda tão competente – poderia nos fazer o favor de levá-la de volta para São Paulo.

O tempo de Yeda no Piratini (e quiçá de sua carreira política) está, felizmente, no fim e a imprensa gaúcha deixa um exemplo singular de anti-jornalismo, divulgando todas as denúncias e fazendo a mágica de, ao mesmo tempo, manter a governadora protegida dela mesma.


“Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo” – verso do Hino Riograndense, mais conhecido que o Hino Nacional cá por essas bandas.

Em tempo: Preciso avisar que usei (e abusei) de ironia no artigo?



Retirado do blog da autora: http://pimentacomlimao.wordpress.com



Niara de Oliveira
Jornalista

Um comentário:

Anônimo disse...

gente! 2010 bate a porta, não podemos deixar o projeto neo-liberal de Yeda, Serra, e Aécio, continuar instalado no RS e muito menos se instalar no Brasil fiquem atentos.