Cada lugar tem os seus paladinos da ordem universal. Alguns conseguem ter brilho nacional. Certamente os três nomes mais badalados do reacionarismo brasileiro triunfante são Ali Kamel, Reinaldo Azevedo e Demétrio Magnoli. Nem Arnaldo Jabor consegue mais superá-los. Essa trinca conservadora e multimídia imagina ter o monopólio do insulto. Kamel, diretor da Central de Jornalismo da Rede Globo, é o mais poderoso. Azevedo, blogueiro e colunista da revista Veja, parece o mais agressivo. Magnoli, o mais acadêmico, aparece bastante em programas da TV Cultura e escreve para Época e Folha de S. Paulo. É o mais fraco, mais chato e mais raivoso. Todos eles publicam livros de militância ideológica explícita e radical. Kamel vendeu muito com "Nós Não Somos Racistas" e voltou a atacar com "Dicionário Lula, um Presidente Exposto por suas Próprias Palavras". Azevedo viveu sua glória com "O País dos Petralhas". Magnoli tenta emplacar "Uma Gota de Sangue".
O curioso é que eles se pretendem racionais, universalistas e sem ideologia. Só os seus adversários é que seriam ideológicos. A lei que comanda os ataques do trio mais reacionário da mídia brasileira é simples: se há movimento social, eles são contra. Sempre. Azevedo acredita que a corrupção nasceu com o PT. Magnoli jura que não existe "fronteira racial" na consciência dos brasileiros. Em nome de um pretenso universal, cuja existência concreta ainda não conseguiram demonstrar, os três investem contra esquerdismos estatizantes, cotas, multiculturalismo, sem-terra, sem-teto, sem-mídia, sem nada e principalmente contra toda tentativa de mexer nas cartas da sacrossanta ordem mundial do deus mercado.
Na guerra santa que lideram contra o atraso de esquerda, praticam o atraso de direita sem qualquer pudor e com direito a boas doses de ingenuidade, hipocrisia e confusão intelectual. Confundem a crítica ao superado marxismo e ao defunto socialismo real, cujas lembranças ainda embalam alguns desvairados, com a rejeição a qualquer demanda de reforma social. Poucas vezes, nos últimos anos, li obras tão preconceituosas, fundamentalistas e pateticamente arrogantes como as dessa trinca que encanta as mentes mais depravadas da nação. A crença piegas dos três na modernidade liberal é coisa de adolescente retardado ou de um velhote chamado para assumir um posto que sempre cobiçou e pelo qual estava disposto a matar a mãe, a filha, a mulher e a sogra.
Kamel, Azevedo e Magnoli acham que as cotas vão criar racismo no Brasil. Foi aí que eu entendi tudo. São três humoristas. Querem nos divertir. São pagos para nos fazer rir. Ser moderno é não dar ajuda social aos necessitados. A Europa é atrasada. Ser moderno é ter um Estado mínimo para a escumalha e máximo para salvar a turma dos camarotes das crises. Universidade, como dizia um filósofo tucano, deve servir para formar elites. Kamel, Azevedo e Magnoli derrubam aviões. Esqueci de um que anda menos em voga, mas que é farinha do mesmo saco: Olavo de Carvalho. É quadrilha de festa junina. Afinal, as bombinhas que soltam por aí não chegam a impressionar. É puro fogo de artifício. Só que, como se sabe, podem ser perigosos. Mas só em caso de acidente. É tiro no pé.
JUREMIR MACHADO DA SILVA
Blog da Associação dos Servidores da Universidade Federal de Pelotas, criado pela Coordenação de Divulgação e Imprensa, com o objetivo de interagir diretamente com o associado e a comunidade em geral, debatendo assuntos não só de interesse da categoria, mas de toda sociedade, de forma crítica e participativa.
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