sexta-feira, 28 de maio de 2010


Por Bruno Ribeiro
Tem gente que me escreve, revoltada, dizendo que persigo a classe média e que combato com preconceito o seu estilo de vida. Como também sou filho da classe média, posso afirmar: minha repulsa a este segmento social não é preconceito, mas conceito. Ou essa gente acha que limpo a barra da minha família quando desço a borduna no lombo da classe? Aliás, limpar a barra da família e culpar somente os outros é um comportamento típico do médio-classista.
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Você quer saber o que é a classe média? Basta ler as cartas dos leitores de qualquer grande jornal. Em Campinas, que é uma cidade médio-classista, a maior diversão da classe média, depois de almoçar com a família no shopping, é escrever para os jornais. A classe média reclama de tudo e os jornais fornecem o espaço necessário para que ela se sinta importante e austera. É o mais próximo que ela pode chegar de ser, digamos, um Arnaldo Jabor.
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Há pouco tempo era grande o número de leitores que reclamavam da mentalidade provinciana da cidade, em contraponto às suas dimensões metropolitanas. Chiavam que nada de importante acontecia em Campinas, sobretudo quando o assunto era cultura e arte. Que, apesar do potencial econômico da cidade {Campinas tem um dos maiores PIBs do Brasil}, vivíamos condenados ao subdesenvolvimento intelectual e à insignificância em relação a São Paulo.
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Aí, a vizinha Paulínia inaugura o maior polo industrial de cinema do País e Campinas passa a servir de cenário para vários filmes brasileiros de bilheteria, como O Ano em que meus Pais saíram de Férias e Salve Geral, só para citar dois exemplos recentes. No momento, Corações Sujos também está sendo rodado em Campinas e algumas tomadas estão sendo feitas no Centro Velho {não muito longe da minha casa}. Um doce para quem adivinhar como está sendo a reação da classe média campineira.
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Se você disse que ela continua reclamando, acertou. As mesmíssimas pessoas que antes escreviam reclamando da falta de vida no Centro, agora escrevem para reclamar que as filmagens estão atrapalhando o trânsito dos carros, que a movimentação dos profissionais do cinema tem alterado suas rotinas, que não se pode mais dormir à noite {leia-se antes das 22h}, que a Prefeitura Municipal deveria proibir esse tipo de coisa no Centro, enfim, que ela paga em dia os seus impostos para ter paz e tranquilidade depois de um dia extenuante de trabalho.
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Meus caros, tenho ou não tenho razão quando digo que a classe média é um caso freudiano? Se a filmagem de Corações Sujos demorar mais um pouquinho, aposto que alguém escreverá para os jornais botando a culpa no Lula. Alguém duvida?
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{Cansei de filmagem em Campinas! Abaixo o cinema nacional!}

Postagem retirada do blog: botequimdobruno.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

ehehehehmuito boa!