terça-feira, 30 de março de 2010

O Brasil não é mais aquele

Lula visitou o Oriente Médio e, como era de se esperar, a imprensa brasileira estrebuchou de raiva, vomitou preconceitos e demonstrou a postura servil de sempre. E depois falam que somos sectários, que somos antiamericanos, que somos isto e aquilo. Mas o ódio que a elite brasileira nutre pelo próprio país é tão evidente que voltar a este assunto chega a ser constrangedor.
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Ao contrário do que os jornais publicaram durante a semana passada, Lula não foi ao Oriente Médio com a pretensão de solucionar o conflito secular entre árabes e judeus. Como poderia o governo brasileiro assumir responsabilidades pela paz numa região tão conturbada do mapa?
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Lula viajou a convite do presidente de Israel, Shimon Peres.
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Lula não cometeu, como o líder sionista, a indelicadeza de ir ao país dos outros para fazer política sem ser convidado. Pouco antes da visita do presidente do Irã ao Brasil, Shimon Peres desembarcou em São Paulo, onde reuniu-se primeiramente com a cúpula do PSDB, com Serra, com Alckmin et caterva. Só depois de dar as ordens aos seus subalternos é que foi a Brasília tomar um cafezinho com o presidente Lula. Atitude no mínimo deselegante, para não dizer suspeita.
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Mas, para a mídia, o grosseiro foi Lula, por não querer colocar flores no túmulo do fundador do sionismo -- doutrina judaico-nacionalista que já deu inúmeras provas ao mundo de sua veia autoritária, racista e violenta. Ou vocês já se esqueceram do massacre de civis promovido pelas tropas sionistas na Faixa de Gaza, em 2008?
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Lula não foi o único presidente que se recusou a visitar o túmulo de Theodor Herzl. Todos os líderes mundiais que não reconhecem a barbárie perpetrada pelo sionismo nos campos de concentração palestinos fizeram o mesmo. Nem por isso foram considerados deselegantes. Com sua decisão firme e soberana, Lula mostrou a Shimon Peres que ali estava o Brasil, um país de 200 milhões de habitantes e oito milhões de quilômetros quadrados. Um país que deixou de ser mero peão no tabuleiro da política internacional.
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Os Estados Unidos e a Europa já reconhecem a força do Brasil e seu gigantesco potencial. Os maiores especialistas políticos não têm dúvida de que, dentro de quatro anos, estaremos entre as cinco maiores economias do mundo. Se forem mantidos os rumos do governo atual, em cerca de vinte anos poderemos estar entre as quatro grandes potências da Terra.
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A postura autônoma do Brasil, nossa recente autodeterminação perante o Primeiro Mundo, tem irritado a imprensa brasileira. Os ditos analistas políticos, como Miriam Leitão, Alexandre Garcia, Arnaldo Jabor e patota, ganharam espaço para gritar que devíamos ser gratos por sermos quintal americano, que ainda somos o primo pobre, que não podemos ter o direito de opinar sobre temas importantes, que temos de nos colocar em nosso lugar, analfabetos que somos, coitadinho que somos... Como não falam por si próprios, mas por quem paga os seus exorbitantes salários, apenas demonstram o quão submissa continua sendo a nossa elite. Para essa gente, não interessa que o Brasil seja um país respeitado.
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A presença de Lula no Oriente Médio não teve o propósito de convencer judeus e árabes a selarem a paz. Isto seria ridículo. Lula apenas aproveitou o convite para marcar a posição brasileira em relação ao drama do povo palestino – do qual foram tirados os direitos legítimos (reconhecidos pela ONU) de ter um Estado livre e soberano. Habilmente, Lula mostrou às Nações Unidas que é possível deslocar o eixo das negociações. E, aos “donos do poder”, mostrou que romper relações com o Brasil será, num futuro próximo, muito mais prejudicial à eles do que à nós.
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Lendo o festival de besteiras que ainda espoca nos jornais acerca da viagem de Lula, não pude deixar de lembrar da deprimente cena de Celso Lafer, ministro das Relações Exteriores do governo FHC, tendo de tirar os sapatos e passar por uma constrangedora revista no aeroporto de Nova Iorque, mesmo depois de se identificar aos agentes de imigração dos EUA.
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Esta é a diferença entre o passado e o presente, entre eles e nós: passamos a ser respeitados porque nos demos o respeito. Para desespero dos subalternos, o Brasil não é mais aquele.

retirado do blog: www.botequimdobruno.blogspot.com

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